o sonho do jornalismo aberto (ou a arte de virar vidraça)
28 março 2007
Em dois posts escritos em dezembro, Chris Anderson, o editor da Wired e autor da teoria da Cauda Longa, cogita implementar um processo de “transparência radical” na publicação, que abriria processos editoriais internos para a participação do público.
Em seis argumentos no segundo post, Anderson lista os benefícios e riscos que a implementação da chamada Web 2.0 na mídia tradicional (a Wired, no caso) acarretariam à rotina editorial da revista.
Agradável na teoria, a idéia pode se tornar um inferno para redações se não houver uma análise (metódica) das conseqüências, como a oficialização da cópia entre veículos e a enxurrada de pautas desinteressantes no lugar da construção coletiva de conhecimento e divulgações específicas para jornalistas específicos.
Quatro meses depois, o assunto culminou na capa da Wired de abril, em que Jenna Fischer explica, de maneira bem agradável ao público masculino da publicação as vantagens da transparência radical.
Mesmo com a extensa matéria, o projeto de Anderson, bem sabemos, não chegou a ser aplicado na publicação que, bem observou Bernardo Carvalho no BlueBus, faz um evidente culto à Apple (seu blog de Mac chama-se Cult of Mac), a empresa menos transparente do planeta.
Evidentemente, não devemos confundir a humanização do executivo com a transparência radical que a Wired enaltece na sua edição – por mais que se revele “gente como a gente”, Jonathan Schwartz, o CEO da Sun, ainda preza por segredos corporativos da empresa que, em razão do seu capital aberto, devem ser guardados.
Mesmo que fuja à proposta original da revista em cobrir novas tecnologias, a transparência na capa da Wired reflete tanto o crescente poder de influência do público como o estado de fragilidade que se abateu sobre as antes impávidas redações com seus novos blogs.
A imaginada transparência, pelo menos no jornalismo brasileiro de tecnologia, é apenas a segunda parte de um movimento que exige, antes de tudo, o fim de um verniz conservador que ainda separa o jornalista de redação do blogueiro independente.
30 março 2007 at 121232 am
Bom, ouvi falar bastante dessa transparência radical nos últimos dias. Agora o seu texto me fez abrir a reportagem da Wired. Preciso ler, claro!
Se isso tem a ver com blogs/ nova mídia/ mídia tradicional, é um assunto realmente imperdível.
falou!