OLPC: o servidor empaca, a MPB (finge que) ajuda
28 fevereiro 2007
O Governo Federal confirmou no final da última semana que a fabricação nacional do servidor usado pela organização One Laptop per Child está “a perigo” (as frases entre aspas são citações literais).
O órgão responsável afirma que o Brasil nem confirmado para a produção, como Nicholas Negroponte prometeu ao visitar o presidente Lula em novembro, está.
O Governoa avalia que Negroponte fez a declaração para diminuir as pressões nacionais para fabricar, sim, o notebook educacional XO – a promessa de Negroponte é encarada como “uma molhada de bico do passarinho”.
David Cavalo, a OLPC no Brasil, confirma o atraso, mas cita “atrasos pelo redesign do servidor” – o Laboratório de Sistemas Integrados, da USP, inclusive, está ajudando na nova configuração.
Até março, promete, ele espera que a licitação para escolher qual empresa fabricará o aparelho sai.
O atraso implica em duas conseqüências diretas: os testes pedagógicos em colégios de Porto Alegre e São Paulo com o XO, também atrasados, não contarão com a proposta original de avaliar também o servidor.
A outra é de fundo moral – não é nada ético o fundador de uma organização dita humanitária mentir sobre promessas que envolvem investimentos financeiros num país de terceiro mundo (não seria contornável nem num de primeiro).
Por isto, creio eu, a acidez da afirmação do Governo parece um tanto exagerada. O próprio Cavallo se apressa em esclarecer (e confundir um pouco mais) sobre a relação próxima, mas com o mesmo nível de cordialidade de uma transação comercial, do Governo com a OLPC.
If it becomes prohibitively expensive to build in Brasil, then it causes other problems. But if that were true then it gives reason to pressure the government that its policies are counter-productive. Since I believe the government truly wants to re-develop a serious microelectronics industry in Brasil, then its policies must enable countries to create competitive products here. let’s see. I am optimistic.
Março tá aí. Enquanto isto, a newsletter da OLPC informa que “XO goes to Carnaval“, com Carlinhos Brown e Chico César se juntando ao projeto para levar os XOs a Salvador e João Pessoa, respectivamente, suas terras-natais.
Só há um problema: as duas cidades que testarão o XO no Brasil, já decidiu o MEC, serão São Paulo e Porto Alegre. Um colégio de João Pessoa testará notebooks convencionais na sala de aula, enquanto Salvador nem no cronograma do MEC figura.
Diz o anúncio que “these artists/community activists immediately saw the benefits for for learning and inclusion”. Blefe da MPB?
Update: Com uma atenção além do corporativismo, David Cavallo esclarece que a ação de Brown e César se dará caso o Governo escolha a plataforma da OLPC para os colégios brasileiros.
E quando diz que “advoga para o envolvimento de muitos grupos para melhorar em escala a qualidade das escolas”, Cavallo tem um ponto: será difícil que Salvador e João Pessoa não recebam os portáteis, caso o Governo decida pela OLPC.
1 março 2007 at 90923 pm
Eu pus um post na mesma lista da OLPC hoje sobre o assunto. Irei replicá-lo no IDG-Now, no Blog do Guilherme e no Br-Linux.
Acho que é um ponto sem importância. Os membros do governo adoram meter os pés pelas mãos. Se não houve encomendas oficiais de laptops por que a OLPC já deveria encomendar os servidores no Brasil ou se comprometer definitivamente com isso?
Há outros países parceiros com as mesmas condições de produção que o Brasil. E é claro que a ONG irá produzir os servidores naquele que também adotar as máquinas. Trata-se de coerência não só econômica, mas de troca de conhecimentos.
“qui-pro-có”, diria o Dr. Lex.
Um abraço,
Jaime.
1 março 2007 at 90931 pm
Qualquer declaração que venha do governo federal será contraditória.
Temos apoiadores, detratores e neutros do projeto do 1o ao último
escalão. Quando 1 fala que a coisa está assim, surge outro dizendo que
está “assado”.
Foi assim com todas as declarações do gabinete do presidente.
Excetuando-se o próprio, que tem declarado interesse na idéia do UCA,
se não na proposta da OLPC.
A fabricação dos servidores no Brasil é sim uma “molhada de bico”. Não
há motivo justificável para isso, já que a “tecnologia” é banal e o
custo pode ser reduzido ao mínimo aceitável em qualquer lugar do
mundo.
O fato dessa proposta ter partido do Negroponte/OLPC, só mostra como
falta política de desenvolvimento neste país, pois o governo foi
incapaz de bolar uma proposta mais ousada e interessante.
Essa letargia na questão economico-desenvolvementista termina por
favorecer mesmo a fabricação lá fora a um custo muitíssimo menor que a
produção local.
Lembrando que a produção local, nos termos atuais, não agrega
praticamente nada em termos de conhecimento e empregos.
O LSI/USP cotou a importação de peças (tela, teclado e demais
componentes) para a fabricação local de modelos semelhantes ao XO, com
“know-how” local. Eles não conseguiram nenhum valo concreto, pois os
fabricantes destes componentes só dizem o preço se você “provar” que
tem condições de absorver quantidades absurdamente enormes de sua
produção.
Ou seja, estes fabricantes de peças se tornam praticamente um
“departamento externo” da fábrica: ajudam no seu projeto, fabricam em
grande escala para você e cumprem prazos/preços de acordo com seu
produto.
É fazendo isso que a câmera de vídeo embutida no XO, de ótima
resolução, custa somente US$ 2,00. É fazendo isso que o XO inteiro sai
por somente US$ 150,00. É por isso que a encomenda mínima é de 5
milhões de unidade. E é por isso que, mesmo o Brasil não aderindo ao
projeto, ele pode acontecer em pelo menos 5 outros países até 2008.
Um abraço,
Jaime.
1 março 2007 at 90947 pm
Vamos lá, Jaime.
O desencontro de informações dentro de um órgão burocrático, como Governo, é considerado na hora da apuração – por isto, uma garantia que eu lhe dou é que o autor das frases transcritas na notícia passa longe do cargo de “último escalão”.
Vale lembrar que, por mais que a interação entre OLPC e Governo seja harmoniosa (tanto a Assessoria Especial da Presidência como David Cavallo garantem isto), isto ainda é uma negociação comercial.
Existem, sim, outros países que podem produzir o servidor – é nesta esperança, aliás, que o Governo brasileiro se apóia para produzir o XO.
Mas o Governo assumir que a OLPC não confirmou a informação é algo novo em comparação à afirmação retumbante feita por Negroponte em novembro – afinal, era o que tínhamos em mente desde a visita dele.
Isto é notícia – e um dos propósitos do Chá Quente é reportar notícias envolvidas no projeto de implementação dos notebooks educacionais sejam elas a favor ou contra a OLPC, ok?
De novo, o Chá é um blog jornalístico.
Abraço,
5 março 2007 at 60630 pm
Guilherme,
Não era minha intenção duvidar de suas fontes ou do objetivo de seu texto. Eles são sim procedentes e não duvido que se baseiem em fontes confiáveis.
Apenas faço um alerta geral para as “batidas de cabeça” que tem dentro do próprio governo. Você há de concordar que é praticamente uma regra os anúncios e desmentidos dos assessores em assuntos relacionados a este projeto, não raro com base em visões ingênuas (vide as confirmações/desconfirmações de encomendas, negadas até pela OLPC, já que ainda não há produto pronto).
A declaração que você conseguiu colher do tal assessor possui este “ar ingênuo” (diria até que infantil). Ao invés de apontar uma ameaça de quebra de acordo, deveria o tal assessor ter garantido ou não os benditos servidores para o Brasil. E ponto. O resto é tentativa de levar para a imprensa uma discussão menor que só não é resolvida porque os envolvidos não sabem conversar (será o forte sotaque do Cavallo?)
A notícia que você deu é sim relevante, como disse, não nego isso. Os comentários que faço são sobre a notícia e não sobre seu estilo jornalístico.
Só mais uma coisa: fora estes servidores (sugeridos pelo Negroponte), o que mais os gabinetes estão articulando? Ou esperam que a OLPC diga qual o papel do Brasil neste cenário?
Um abraço,
Jaime.
9 abril 2007 at 30333 pm
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9 abril 2007 at 60649 pm
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