a história por trás do Moto-A-Porter
18 abril 2007
Durante o São Paulo Fashion Week, a Motorola resolve convocar blogueiros nacionais e internacionais para cobrir o evento de moda sob o Moto-A-Porter, blog coletivo de moda que gerou debates sobre a validade de uma empresa incentivar o “peer-content” .
Por meio do Blue Bus, Marcelo Tas saiu a público criticando a iniciativa por ser “plantada” pela Motorola. O fundador e editor do Blue Bus, Júlio Hungria, concordou com Tas, afirmando achar “incômoda (para a internet) a promessa dos ‘maiores blogueiros do mundo'”.
A reação foi imediata: no seu blog e no Moto-A-Porter, Marisa Toma, do Objeto de Desejos, classifica o comentário de Tas como um “ataque de ciúmes” e clama a cobertura dos 21 blogs como honesta, mesmo atrelada a uma marca.
O que você não sabe é que a própria Motorola se sentiu incomodada com a polêmica. A começar pelos comentários no post de Marisa no Moto-A-Porter – alguns deles foram publicados, de maneira anônima, por funcionários da Ag_407, que coordenou o projeto.
O comentário número 10, de “ed”, por exemplo, foi publicado por Alex Schönburg, sócio da Ag_407, apresentado poucos argumentos plausíveis (“Come one”???) – as informações vêm de envolvidos extremamente confiáveis.
Mais que isto: após o IDG Now! questionar a Motorola sobre o pagamento de blogueiros nacionais e internacionais, sua assessoria acionou a responsável por fazer a ponte entre a Ag_407 e os blogueiros.
Um e-mail foi disparado afirmando que, caso jornalistas perguntassem sobre remuneração, blogueiros deveriam responder que estavam nesta não pelo dinheiro, mas pela “iniciativa inovadora”e pela “maravilhosa oportunidade” de fazer o blog.
A resposta polida da Motorola se transformou em post no Blog dos Blogs, do editor do Now!, Ralphe Manzoni Jr.
Por fim, a Motorola emprestou a cada blogueiro um aparelho MotoRizor Z3 para tirar fotos e fazer vídeos para o blog, prometendo que o aparelho seria do blogueiro. O evento de moda terminou no dia 29 de janeiro.
Setenta oito dias (and counting) após o SPFW, o celular ainda não foi entregue. Jabá? Cada um escolhe se aceita ou não, mas prometer e não cumprir é, no mínimo, deplorável por parte de uma grande empresa.
Em outubro do ano passado, a Nokia, concorrente mundial da Motorola, fez uma campanha silenciosa na blogosfera, pagando para blogs como o Sedentário& Hiperativo e GameReporter para divulgar boatos sobre o tal de Mysterious Ad.
Comenta-se que a empresa pagou 500 reais a cada blogueiro pela divulgação. O buzz rendeu – veja no BlueBus, no Flickr e no Technorati.
Outras empresas já investem na blogosfera nacional com ações de marketing não tão camufladas como a Nokia – veja a Antártica e os Estúdios Fox com blogs como o Jacaré Banguela, blog do Noel e Marmota.
Até mesmo a Nissan, em sua perigosa campanha da suposta volta da banda “The Uncles” para vender o sedã Setra, recorreu à blogosfera (seria irresponsabilidade dizer se por pagamento ou não).
Na teoria, a iniciativa da Motorola é louvável. Mas sua prática enrolou-se no mesmo corporativo que empresas aplicam na hora de tratar com blogs, vistos como meios de divulgação baratos.
Mais triste ainda notar um certo deslumbramento de quem participou – veja o e-mail enviado por uma das blogueiras para “convencer” seus colegas. Assim, a seriedade se manterá a quilômetros de distância da blogosfera brasileira.
A The Economist da semana passada trouxe uma ótima matéria sobre a suposta mudança que os leitores deverão experimentar na (atualmente) simples ação de ler com a digitalização de livros em curso – hoje, liderada pelo Google e seu Books.
A notícia vai ao ponto que você está pensando.
There is an obvious analogy between what Apple’s iPods have done to CD players and what electronic books may do to the printed page, but the shift is unlikely to be quite so comprehensive. The simplest difference is that transferring one’s old music CDs onto iPods is easy, whereas transferring one’s old books onto an e-book is impossible.
Num mercado com potencialmente 10 milhões de livros digitalizados só pelo Google (contas da publicação), onde está o iPod dos livros? Seria caso não só de dizer que a Sony saiu na frente com seu Reader, mas que foi a única a largar.
O aparelho, semelhante a um smartphone, recebeu elogios do crítico da revista Weekly Standard, David Skinner, pela presença do papel eletrônico, que dá o mesmo contraste ao e-livro que as encadernações de papel – esta sempre foi a principal dificuldade de quem se arriscou no setor.
Em seu blog, de onde o link de Skinner foi retirado, Pedro Dória discorre sobre o impacto do iPod na sua vida e remete a um fetiche com sua prateleira de livros crivada de lombadas coloridas.
Encarar o Reader como ameaça às sempre belas prateleiras de livros (Guilherme book freak) é como imaginar que vinis e CDs seriam dizimados com o iPod – colecionadores sempre terão seu espaço.
A transição para o e-livro, porém, deverá demorar ainda mais que a música digital, a começar pela escassez digital da literatura – a Web 2.0 tem tantos exemplos com música, mas alguém conhece algum com livros?
O Reader também não tem concorrentes e, além de caro (350 dólares!), ainda não conta com uma plataforma de venda poderosa o suficiente para alavancar a leitura de livros em formato proprietário, como o iTunes.
Se quiser, o Google pode ajudar bastante a forçar uma mudança rápida no setor. De novo (anúncios online, anyone?), pode depender da empresa de Page e Brin transformar algo ignorado num setor milionário.
da web: o código aberto e a merda
12 janeiro 2007
Duas dicas de leitura online: Lawrence Lessig, o guru de tecnologia por trás do Creative Commons colocou online, em dezembro, seu Codev2, reedição do livro “Code and Other Laws of Cyberspace”, sobre impactos da cibercultura na cultura e as leis digitais que regem o ciberespaço.
Segunda obra do cara (e primeira a ser distribuída gratuitamente na rede), “Free Culture” ganhou tradução em português dentro da Trama Virtual pelas mãos do Alexandre Matias, do Trabalho Sujo, mas está inacessível no site da Trama sabe-se lá Deus por quê.
Por sua vez, vem lá a revista Merda, com uma entrevista com o Clodovil (devidamente sentado na privada na capa) com o chapéu “No ventilador”.
Parece uma derivada da Bundas não só pelo…hã-hãm…nome, mas também pela penca de colaboradores que esbarra em escritores, jornalistas e cartunistas fazendo Merda, como diz a campanha.
internet em livraria = geek
4 dezembro 2006
É impressão só minha ou tentar achar livros sobre tecnologia até mesmo em grandes livrarias (vide a rede Fnac) ainda é se deparar com calhamaços de guias técnicos para linguagens de programação?
Com paciência, você acha livros sobre cultura digital espalhados em Sociologia, Negócios, Humanas e (pasme) até Marketing. Que falta me faz indicações ao lado das prateleiras…