A maioria dos planejamentos veículos online, principalmente os de nicho, como tecnologia, contam com um glossário – ao se deparar com um termo técnico ou complicado, o usuário clica sobre ele e um pop-up traz a explicação.

Não tinha visto nenhum funcionar até que o habituê do Chá e editor do OLPCitizen, Meira Rocha, alertou na lista do Jornalistas da Web: o tradicional New York Times implementou o sistema sem um banco de termos próprio, mas usando o Answers.

Clique duas vezes sobre qualquer termo de matérias do NYTimes (como esta sobre escolas abandonando notebooks na sala de aula pela falta de resultados práticos que ironia), e uma nova janela mostra seu significado.

Algo como o iG fazia com seus sites parceiros – o termo clicado, no caso, era buscado pela péssima ferramenta de busca então do portal.

A barra de contatos aí ao lado (leitor de RSS, vem pra cá por um instante só) ganhou três blogs que valem o clique.

De um lado o garoto-prodígio Dênis Rodrigues humilha geral com sua técnica em alguns dos seus melhores desenhos – seja pra editoras, seja pra consumo próprio.

Do outro, o nem tão garoto Flávio Remontti assume difinitivamente sua tara por carros, brinquedos, sketches e coisas fofinhas no seu Designs e Afins.

Já a blogosfera geek ganhou peso (literalmente também) com a chegada de Mário Nagano, recém batendo suas próprias asas, ao blog.

Não se engane pelo pato fumando um cigarro – Naganão vai tratar só de tecnologia roots.

Duas posições do Chá quanto a recentes casos de jornalismo online.

1 – Me espanta assustadoramente a completa falta de tato com que alguns figurões da grande mídia norte-americana abordaram o norte-americano Paul no seu blog do Live Journal.

Kate, a namorada de Paul, estava em uma das classes da Virginia Tech quando Cho Seung-Hui atacou o campus atirando. Com ele, 32 pessoas morreram. Kate não foi uma delas e ligou para Paul para tranquilizá-lo.

Nas 7 páginas de comentários do seu post, são 9 os convites de grandes conglomerados de comunicação pedindo que Paul fale. Alguns enviam condolências. Outros tratam o assunto com uma impessoalidade além do que a profissão pede.

É o caso de Desiree Adib, produtora (a ou o?) da ABC News.

“please call me, im an abc news producer
desiree.adib@abc.com
or 212 456 7682
thanks.”

Da ABC e ainda pedindo “por favor”? Grande bosta.

2 – A manchete é “HP Stops Selling Printers, Starts Selling Prints”. A reação é ligar para a HP. A frustração com o Slashdot, que já foi muito mais sério e preciso, é crescente – lembra do caso do Orkut na Índia?

A matéria da ZDNet, que motivou o post, não cita o fim de produção de nenhuma linha e se aplica apenas ao mercado australiano (!). De impreciso, o título se mostra completamente falso.

*

A grande mídia e a blogosfera dão bons e maus exemplos de interação.

E ainda teve blogueiro/jornalista que acreditou que os blogs/jornais iam atropelar os blogs/jornais. Tsc tsc.

Durante o São Paulo Fashion Week, a Motorola resolve convocar blogueiros nacionais e internacionais para cobrir o evento de moda sob o Moto-A-Porter, blog coletivo de moda que gerou debates sobre a validade de uma empresa incentivar o “peer-content” .

Por meio do Blue Bus, Marcelo Tas saiu a público criticando a iniciativa por ser “plantada” pela Motorola. O fundador e editor do Blue Bus, Júlio Hungria, concordou com Tas, afirmando achar “incômoda (para a internet) a promessa dos ‘maiores blogueiros do mundo'”.

A reação foi imediata: no seu blog e no Moto-A-Porter, Marisa Toma, do Objeto de Desejos, classifica o comentário de Tas como um “ataque de ciúmes” e clama a cobertura dos 21 blogs como honesta, mesmo atrelada a uma marca.

O que você não sabe é que a própria Motorola se sentiu incomodada com a polêmica. A começar pelos comentários no post de Marisa no Moto-A-Porter – alguns deles foram publicados, de maneira anônima, por funcionários da Ag_407, que coordenou o projeto.

O comentário número 10, de “ed”, por exemplo, foi publicado por Alex Schönburg, sócio da Ag_407, apresentado poucos argumentos plausíveis (“Come one”???) – as informações vêm de envolvidos extremamente confiáveis.

Mais que isto: após o IDG Now! questionar a Motorola sobre o pagamento de blogueiros nacionais e internacionais, sua assessoria acionou a responsável por fazer a ponte entre a Ag_407 e os blogueiros.

Um e-mail foi disparado afirmando que, caso jornalistas perguntassem sobre remuneração, blogueiros deveriam responder que estavam nesta não pelo dinheiro, mas pela “iniciativa inovadora”e pela “maravilhosa oportunidade” de fazer o blog.

A resposta polida da Motorola se transformou em post no Blog dos Blogs, do editor do Now!, Ralphe Manzoni Jr.

Por fim, a Motorola emprestou a cada blogueiro um aparelho MotoRizor Z3 para tirar fotos e fazer vídeos para o blog, prometendo que o aparelho seria do blogueiro. O evento de moda terminou no dia 29 de janeiro.

Setenta oito dias (and counting) após o SPFW, o celular ainda não foi entregue. Jabá? Cada um escolhe se aceita ou não, mas prometer e não cumprir é, no mínimo, deplorável por parte de uma grande empresa.

Em outubro do ano passado, a Nokia, concorrente mundial da Motorola, fez uma campanha silenciosa na blogosfera, pagando para blogs como o Sedentário& Hiperativo e GameReporter para divulgar boatos sobre o tal de Mysterious Ad.

Comenta-se que a empresa pagou 500 reais a cada blogueiro pela divulgação. O buzz rendeu – veja no BlueBus, no Flickr e no Technorati.

Outras empresas já investem na blogosfera nacional com ações de marketing não tão camufladas como a Nokia – veja a Antártica e os Estúdios Fox com blogs como o Jacaré Banguela, blog do Noel e Marmota.

Até mesmo a Nissan, em sua perigosa campanha da suposta volta da banda “The Uncles” para vender o sedã Setra, recorreu à blogosfera (seria irresponsabilidade dizer se por pagamento ou não).

Na teoria, a iniciativa da Motorola é louvável. Mas sua prática enrolou-se no mesmo corporativo que empresas aplicam na hora de tratar com blogs, vistos como meios de divulgação baratos.

Mais triste ainda notar um certo deslumbramento de quem participou – veja o e-mail enviado por uma das blogueiras para “convencer” seus colegas. Assim, a seriedade se manterá a quilômetros de distância da blogosfera brasileira.

A The Economist da semana passada trouxe uma ótima matéria sobre a suposta mudança que os leitores deverão experimentar na (atualmente) simples ação de ler com a digitalização de livros em curso – hoje, liderada pelo Google e seu Books.

A notícia vai ao ponto que você está pensando.

There is an obvious analogy between what Apple’s iPods have done to CD players and what electronic books may do to the printed page, but the shift is unlikely to be quite so comprehensive. The simplest difference is that transferring one’s old music CDs onto iPods is easy, whereas transferring one’s old books onto an e-book is impossible.

Num mercado com potencialmente 10 milhões de livros digitalizados só pelo Google (contas da publicação), onde está o iPod dos livros? Seria caso não só de dizer que a Sony saiu na frente com seu Reader, mas que foi a única a largar.

O aparelho, semelhante a um smartphone, recebeu elogios do crítico da revista Weekly Standard, David Skinner, pela presença do papel eletrônico, que dá o mesmo contraste ao e-livro que as encadernações de papel – esta sempre foi a principal dificuldade de quem se arriscou no setor.

Em seu blog, de onde o link de Skinner foi retirado, Pedro Dória discorre sobre o impacto do iPod na sua vida e remete a um fetiche com sua prateleira de livros crivada de lombadas coloridas.

Encarar o Reader como ameaça às sempre belas prateleiras de livros (Guilherme book freak) é como imaginar que vinis e CDs seriam dizimados com o iPod – colecionadores sempre terão seu espaço.

A transição para o e-livro, porém, deverá demorar ainda mais que a música digital, a começar pela escassez digital da literatura – a Web 2.0 tem tantos exemplos com música, mas alguém conhece algum com livros?

O Reader também não tem concorrentes e, além de caro (350 dólares!), ainda não conta com uma plataforma de venda poderosa o suficiente para alavancar a leitura de livros em formato proprietário, como o iTunes.

Se quiser, o Google pode ajudar bastante a forçar uma mudança rápida no setor. De novo (anúncios online, anyone?), pode depender da empresa de Page e Brin transformar algo ignorado num setor milionário.

leituras: 11 de março

11 março 2007

Não adianta nada tentar comentar todo assunto que aparece por aí – o Chá Quente, você já deve ter notado, é mais uma coluna de jornal que um amontoado de post-its (e isto é errado? Não sei).

Pra isto, segue o primeiro apanhado de textos achados por aí que merecem alguns minutos (horas, em alguns casos) de atenção em diversos assuntos.

**

A Piauí de fevereiro traz um belíssimo artigo do escritor e historiador Simon Schama sobre o talento de Tom Waits em dissecar o “sonho americano” na podridão, aproveitando como gancho o lançamento do triplo (e fodido de bom) Orphans: Brawlers, Bawlers & Bastards.

Ainda na música, a New Yorker publicou um (bom) artigo sobre “Cê”, o novo álbum de Caetano Veloso, rememorando com adjetivos dignos de estrangeiros trabalhos anteriores do baiano. A leitura vale pela credibilidade de Veloso lá fora.

Na BBC Brasil, Ivan Lessa discorre sobre Second Life de maneira um tanto exagerada, admito, mas com um final de matar a pau.

Já a Slate derruba, no “jTunes”, de Paul Collins, a crença de que a venda online de música é sinônimo de explorar a Cauda Longa invariavelmente, com o bloqueio que a Apple fez de artistas regionais na sua iTunes Music Store.

Por fim, a PitchFork entrevista Joe Stevens(acima), fotógrafo que acompanhou pistolões da música entre as décadas de 50-80 – a matéria traz, inclusive, uma prévia do livro com fotos, atrasado em 12 anos (!).

Duas dicas de leitura online: Lawrence Lessig, o guru de tecnologia por trás do Creative Commons colocou online, em dezembro, seu Codev2, reedição do livro “Code and Other Laws of Cyberspace”, sobre impactos da cibercultura na cultura e as leis digitais que regem o ciberespaço.

Segunda obra do cara (e primeira a ser distribuída gratuitamente na rede), “Free Culture” ganhou tradução em português dentro da Trama Virtual pelas mãos do Alexandre Matias, do Trabalho Sujo, mas está inacessível no site da Trama sabe-se lá Deus por quê.

Por sua vez, vem lá a revista Merda, com uma entrevista com o Clodovil (devidamente sentado na privada na capa) com o chapéu “No ventilador”.

Parece uma derivada da Bundas não só pelo…hã-hãm…nome, mas também pela penca de colaboradores que esbarra em escritores, jornalistas e cartunistas fazendo Merda, como diz a campanha.

É impressão só minha ou tentar achar livros sobre tecnologia até mesmo em grandes livrarias (vide a rede Fnac) ainda é se deparar com calhamaços de guias técnicos para linguagens de programação?

Com paciência, você acha livros sobre cultura digital espalhados em Sociologia, Negócios, Humanas e (pasme) até Marketing. Que falta me faz indicações ao lado das prateleiras…

A popularização dos blogs colocou em xeque a existência de centrais de conteúdo online: com tanta produção de notícias, por que recorrer a um veículo já estabelecido?

Balela. Estudo divulgado pela LexisNexis no começo de outubro mostra que, entre 1,5 mil norte-americanos, apenas 6% recorrem à chamada “mídia emergente” para se informar sobre assuntos de alto impacto, como um furacão ou notícias econômicas.

Por outro lado, canais de TV (50%), rádios (42%) e jornais (37%) são responsáveis por atrair as atenções de grande parte da população dos Estados Unidos.

O resultado da pesquisa coloca em risco a maturidade de blogs, podcasts e wikis como fontes de informação na internet? Longe disto. No mundo real, qualquer banca também expõe o New York Times e a Hora do Povo – muito embora, pela facilidade de ferramentas, a balança online esteja mais para cá que pra lá.

A postura de encarar blogs com pouco credibilidade jornalística se reflete também no mercado brasileiro, como mostra a pesquisa Blogosfera Brasil, divulgada de maneira percursora pela consultoria Verbeat também em agosto.

A elitizada audiência de blogs (com banda larga, faculdade completa e da região Sul-Sudeste) relaciona seus acessos mais por diversão (90,4%) que por informação (72,5%) – muito embora esta última cifra seja surpreendetemente alta.

Mas quantos blogs jornalísticos de prestígio e credibilidade você conhece que nasceram como blogs e não estão veiculados a grandes centros de mídia? Pois bem, prazer.

Por que, por mais que jornalista não saiba blogar, como defende o esperto Júlio Dário Borges no Digestivo Cultural, a imensa maioria de blogs está amparada por grandes editoras ou veículos online.

Veja Ricardo Noblat, Marcelo Tas, Daniel Piza, Josias de Souza e a imensa fila formanda na “blogosfera” brasileira – o próprio IDG é exemplo disto.

No pouco crível mercado de blogs dos EUA, nasceu o político Wonkette, por exemplo, que catapultou sua criadora, Ana Marie Cox, ao posto de editora de política da conceituada Time, além do conglomerado Gawker que, crises a parte, se mantém bem e sozinho com seus blogs sobre gadgets e fofocas.

Por aqui, o caminho tomado pelos blogs é o contrário: a empresa de mídia formula um diário como novo canal para antigos profissionais. Tem como a confiança ficar abalada com as velhas caras de sempre?

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