O cenário parecia ideal para uma comparação: uma empresa jovem introduz uma novidae que deixa o mastodonte do setor desnorteado e o obriga a tomar medidas que seguim a inovação do mais novo para não se dar ao luxo de perder mercado.

Ao contrário do que o bom senso possa indicar, porém, o Google não foi a Microsoft em se tratando de Facebook. Complicou? Vamos por etapas.

A Microsoft nunca primou pela agilidade. Mas quando a empresa de Bill Gates resolvia investir, sai da frente. Macintosh, ICQ e Netscape que o digam – o pioneirismo não evitou que Windows, MSN Messenger e Internet Explorer dominassem amplamente o mercado.

Em uma bebedeira de jornalistas, a Microsoft ganhou o apelido de Junior Baiano – sempre chega atrasada, mas nunca perde uma viagem.

Com a explosão de acesso e moral do Facebook frente a um combalido MySpace e um cada vez menos significante lá fora Orkut, cabia ao Google ter que correr atrás da jovem rede social para que seus usuários não perdessem interesses.

O que fez o Google? Abriu sua plataforma para desenvolvimento de aplicativos de terceiros? Não. Formulou um padrão aberto para que todas as redes socias dispusessem de um mesmo conjunto de APIs para criar aplicações, o OpenSocial – simples e “bastante internet”, como diria John Battelle.

O Google simplesmente não copiou o Facebook, mas deu um passo à frente e votou a nova rede numa sinua de bico – são 7 redes sociais com potenciais 200 milhões de usuários contra apenas uma que, mesmo supostamente valendo 15 bilhões de dólares, tem apenas 50 milhões de usuários.

O TechCrunch classificou a jogada como “xeque-mate“. Não dá pra concordar mais – além de virar o jogo em questão de dias, o Google provou que consegue manter a inovação, pelo menos quando resolve levar redes sociais a sério.

Durante evento para apresentação da plataforma em São Paulo, me pareceu claro também que na hora em que os aplicativos para Orkut tiverem um número mínimo de interessante (vide meu exército de zumbis no Facebook), pode dizer adeus a qualquer outro concorrente.

A massa, que é o que mais importa, o Orkut já tem. Na hora em que efeito viral de aplicativos dentro da rede social bater, a campainha soa e o juiz levanta o braço do engenheiro turco que passeia pelo Rio de camisa cafona – claro que vai precisar rolar um olho aberto com segurança tremendo.
Ironicamente, o lançamento do Android (ou o tão falado gPhone)  vai exatamente na mesma direção do OpenSocial para redes sociais – o Google aproveita seu poder de barganha para propor um padrão de mercado para atividades ainda incipientes.

Um sistema aberto para telefones celulares permite não apenas que a comunidade desenvolva aplicativos móveis mas também que fabricantes poderão usar os softwares em aparelhos mediante algum tipo de compensação ao Google.

Você também pensou em publicidade? Propaganda móvel é ainda algo bastante incipiente mas que deixa qualquer acionista com cifrões nos olhos de imaginar uma possível monetização dos mais de 3 bilhões de celulares atualmente no mercado.

Oferecer uma plataforma aberta significa aposta em aparelhos mais acessíveis que tenham ferramentas do Google por trás dos aplicativos desenvolvidos pela comunidade – aqui entra também um fator viral que deverá ser febril na OpenSocial.

Ambas as plataformas, aliás, nascem com chances mastodônticas de rolarem – a primeira pela combinação do setor de redes sociais, a segunda pelos mais de 30 parceiros do Google que incluem operadoras, fabricantes de aparelhos e desenvolvedoras.

Te lembra do lema da web 2.0 daquele cartum maravilhoso da ovelha? Pois é, lá vai o Google pegando uns pares de ovelha e sendo o principal beneficiado pela lã que vai cair em suas mãos. Você dá os anéis, mas ganha o centro de ourivesaria de volta.

Vou tentar falar isto da maneira mais objetiva possível.

Pra publicar a matéria sobre 8 dúvidas básicas na hora de contratar uma banda larga, me perdi entre contratos de prestação de serviço, (muitas) informações conflitantes dadas pelos diversos lados interessados na histórias e (alguns) toque precisos de quem conhece o setor.

A pauta surgiu pra explica pra quem não entende direito a proibição da exigência de provedor para Speedy que rolou em setembro e acabou descambando também para outras dúvidas, tipo teto de download, traffic shapping e garantia de velocidade.

Entre contextualizações históricas e um blá-blá-blá jurídico que não ajuda nada quem não passou cinco anos estudando leis (como eu), a decisão judicial proferida pelo juiz Marcelo Zandavali traz um parece bem claro quanto à exigência técnica de provedores, transcrita abaixo.

decisao_justica_speedy

(Clique na imagem para baixar o PDF de 53 páginas com a decisão final)

Teoricamente, provedores deveriam comprar links de operadoras de telefonia para oferecer a seus clientes conexões de internet- era assim que funcionava o dial-up. O cenário mudou com a banda larga, quando operadoras como a Telefônica ofereciam (e ainda o fazem) planos diretamente pro usuário.

Porque pagar pelo provedor, que oferece apenas uma autenticação classificada como desnecessária pela Justiça? Os defensores alegam os tais serviços agregados (email, principalmente) e a proximidade do usuário, como me alertou o presidente da Abranet.

Entenda o cúmulo da carência: você paga um serviço que não precisa só pela “proximidade” que o provedor tem com você. E isto é uma piada, sim, sobre uma afirmação que beira o absurdo.

Não é difícil entender a explosão de raiva que presenciei durante a entrevista com o presidente do Abusar quando o assunto Speedy veio à tona – no papel de repórter, é preciso filtrar o que é ataque puro de possíveis argumentos que o sustente.

Eles vieram, mas não pela organização que dá ótimas dicas para quem se sente prejudicado (e não são poucos) pelas operadoras brasileiras, também campeãs em ignorar solenemente usuários.

Anos de brigas passados, quem defende a necessidade de provedor não conseguiu ainda dar um argumento tão conciso e analítico como aquele acima do juiz Zandavali.

net_provedor

Do lado da Net, uma observação também. Lá no contrato do seu Virtua (full disclosure: eu sou um usuário Virtua sem maiores reclamações), a cláusula 35 aponta que a contratação de um provedor é obrigatória.

A Net diz que já oferece um de graça, mas (leia meus lábios) isto deverá trazer problemas futuros também à empresa de TV a cabo.

Por enquanto, preocupe-se em ler alguns tutorais por aí para suprimir o suposto traffic shapping que a Net classifica como “falácia” e jura de pés juntos que não faz – se não faz, não ficará chateada pelos tutorais, né?

radiohead

A lista acima (via Trabalho Sujo) é do ranking do Last.FM para as músicas mais tocadas na semana terminada em 14 de outubro, num post irônico e ácido bagarai dos caras do serviço londrino.

Aliás, o Last.FM tá vindo.

a apple no brasil

16 outubro 2007

Quase na íntegra abaixo, uma matéria do cumpadre André Borges e de João Luiz Rosa sobre a postura da Apple no Brasil publicada um dia após a coletiva em que a companhia anunciou os novos iPods no país. Leia e entenda a situação.

Em cinco anos, a empresa não teria credenciado mais de cinco revendas, além de reduzir o tamanho de sua própria equipe no Brasil. Dos 50 funcionários existentes há algum tempo – quando a Apple só trabalhava com computadores para empresas -, o quadro teria sido diminuído para menos de uma dezena de profissionais, com o agravante de que agora a empresa também atua no varejo, diz uma pessoa a par do assunto.

Na América Latina, diz essa pessoa, o foco da Apple estaria dirigido ao mercado mexicano: cerca de 70% dos negócios da empresa na região estariam concentrados no México. A proximidade com os Estados Unidos facilitaria a venda dos produtos naquele país. O Brasil representaria uma parte quase insignificante do faturamento global: embora não existam dados oficiais, o número corrente entre os revendedores é de que a participação variaria entre 0,1% e 0,2%.

A participação mirrada seria resultado da estratégia da matriz americana e de sua resistência em seguir o caminho adotado por todas as grandes fabricantes internacionais de computadores que atuam no Brasil: produzir os equipamentos no país. “Sem a produção local, é impossível competir”, diz outro executivo do setor.

No fim da década passada, a Apple chegou a iniciar as negociações com o governo federal para fabricar os produtos no país, mas as conversações não evoluíram e a empresa acabou desistindo do projeto, conta esse executivo.

A opinião compartilhada por pessoas que conhecem bem o setor é que a Apple optou por manter uma operação pequena no Brasil, com um retorno igualmente modesto, em vez de arriscar-se a investir mais para tentar ampliar sua participação. O reflexo dessa política, no entanto, seria o enfraquecimento dos canais indiretos de venda no Brasil.

Depois da Apple, se torna oficial a segunda grande mudança de assessorias em menos de um mês: agora foi o Google.

Sai o Grupo Casa, entra a Ideal, nova empresa tocada pelos jornalistas Ricardo César (ex-Computerworld e Exame), Eduardo Vieira (ex-Exame e Época) e Raul Fagundes (RMA Rê Coltro e o próprio Edu Vieira avisam que é a MediaLink).

Este blog, acostumado a descer a lenha da postura holográfica do Google no país, vê a mudança com bons olhos.

Talvez não na velocidade que os goianos do MQN queriam com seu Fuck CD Manifest, divulgado no começo do ano, mas os preços de música física estão caindo absurdamente rápido.

O modelo praticado pela querida Neto Discos, que oferece catálogos de música nacional e bandas cult por preços que variam entre R$ 6 e R$ 16, vem sido aplicado em dinossauros do varejo, como Americanas, FNac, Extra e mesmo Submarino, o que coloca até mesmo em xeque o modelo de CDs limitados que Universal e EMI testam no país.

Minha impressão, fartamente aproveitada nas liquidações, foi confirmada em entrevista com Felipe Llerena, o fodão do iMúsica, principal serviço de música digital no Brasil hoje – CDs até os 20 reais são fartos hoje como naqueles tempos de baciadas nas Lojas Americanas.

A enrolação acima é pra dizer que, no sábado, comprei meu primeiro álbum digital pelo novo serviço de MP3 do Amazon, o AmazonMP3 – outras canções separadas já tinham sido levadas pra casa naquelas promoções da DeckDisc.

Você baixa um software, escolhe o CD, digita os dados do cartão de crédito, mente dizendo que mora nos EUA e, pronto, o CD começa a ser baixado no seu desktop e é integrado automaticamente no iTunes.

Já tinha o “OK Computer”, do Radiohead, baixado do torrent, é bem verdade, mas comprei sua versão oficial. A comparação de qualidade é injusta: 128 Kbps pro torrent, 282 Kbps para Amazon e isto não é propaganda minha – se você procurar direito, pode encontrar encodings com qualidade similar ou melhor por aí.

Ironicamente, a compra foi dias antes do Radiohead anunciar no seu site que venderia seu próximo CD pelo preço que o usuário estivesse disposto a pagar pela web – confere o Trabalho Sujo nesta.

Além de conseguir comprar (não tenho cartão de crédito dos EUA, benhê), o AmazonMP3 se apresenta como a primeira alternativa realmente palpável de comprar música digital no Brasil – sem DRM, com um preço justo (só reze pro dólar não explodir) e um processo fácil.

Um álbum (todos os simples e alguns duplos) é 8,99 dólares, enquanto canções separadas são 0,89 dólar. Claro, há discos mais caros – em sua maioria, boxsets especiais com vários CDs.

Moral da história: gastei 9 dólares pra ter um CD que já tinha baixado com qualidade melhor. E, sinceramente, não me sinto um otário.

Dá pra aproveitar o post ainda pra fazer uma observação represada há meses: incrível como quem gosta de jazz se dá bem comprando digital.

Como o sistema de cobrança é por canção, e CDs do estilo costumam ter menos faixas que outros, álbuns fodões de jazz saem por bem menos que suas versões físicas lá fora ou aqui dentro mesmo pela UOL MegaStore.

Hoje o Joost saiu dos testes limitados – qualquer um com banda larga pode baixar o software e testar a TV online que, dizem, poderá matar o YouTube.

Para comemorar o fato, Janus Friis escreveu um raro post no seu blog, fazendo um balanço bem sincero sobre a mudança entre os processos tomados pelo Kazaa ao belo cenário que o Skype abre para a dupla formada com Niklas Zennstrom.

O que chama a atenção, na verdade, é o arremate do texto.

“The other project is Atomico. Atomico is our new risk capital group where we invest our own capital. We have already, quietly, invested in many companies such as Technorati, FON and Last.FM, and now we are going to take it to the next level.

All in all today is one of the more interesting mondays.. :)”

Na miúda, a dupla que já ganhou milhões de venture capitalists para botar no ar Kazaa, Skype e Joost montou uma consultoria de VC chamada Atomico para investir a própria grana ganha com a bilionária venda do Skype ao eBay financiando outros projetos online.

A notícia prometida lá atrás já pode ser divulgada: a Apple Brasil trocou sua assessoria de imprensa no Brasil. Ao assumir a subsidiária brasileira, o executivo Alexandre Szapiro trocou a Zenza pela FirstComm, assessoria responsável pela conta da Palm quando ele era também presidente da empresa.

A estratégia é uma surpresa aos acostumados a lidar com a Apple no Brasil principalmente pela participação que o homem por trás da Zenza, Thomas Fischer, tem com a empresa de Steve Jobs – antes mesmo da Apple abrir escritórios no Brasil oficialmente, Thomas já lidava com a empresa.

Ah, tem outras grandes movimentações em assessoria de imprensa no Brasil envolvendo alguém maior que a Apple. Um dia eu conto aqui.

Conversas entre blogs. O cumpadre Henrique Martin, no seu novo Zumo (eu não falei, mas você precisa ir lá), revela em primeira mão que dois grandes portais da internet brasileira estão prestes a vender música digital por assinatura.

Sei os nomes, mas por questão de respeito à apuração alheia, não falo. Mas discorro sobre fatores que envolvem a suposta estréia da assinatura de músicas no país.

Leia meus lábios: música digital no Brasil é algo que se fala muito, mas pouco se faz. Ouvi do presidente da iMúsica, o pioneiro do assunto no Brasil, a promessa de inaugurar a bendita venda por assinatura, algo classificado pelo próprio como mais ajustável ao mercado brasileiro, no primeiro semestre de 2006. iG e UOL também fizeram suas promessas.

Falar (planejar, quer dizer) é muito fácil. Desde lá, nada novo em nenhum serviço. A razão? A negociação com gravadoras brasileiras, altamente repulsivas à idéia.

Sinceramente, acho um avanço se o iG começar realmente a vender suas canções pelo celular até o final do ano. Isto, porém, envolve algo que o portal de Caio Túlio Costa não é bom quanto a música digital: cumprir prazos – veja o atraso tremendo da tal MusiG.

A constatação? Que, assim como a repreensão, a venda de música digital no Brasil não funciona.

a web e a merda

11 setembro 2007

“saneamento é uma rede de infra-estrutura básica da sociedade, como água, eletricidade, telefone. esgoto é assunto de interesse social há milhares de anos. os primeiros têm mais de 5.000 anos. (…) internet é, no máximo, tão importante como… saneamento. se não conseguimos controlar o fluxo de efluentes danosos à saude e ao ambiente em terrenos, lagos, rios e mares, de pouco adiantará termos internet”.

Enquanto o jornalismo de tecnologia do Brasil, onde metade dos municípios têm tratamento de esgoto, se ocupa tanto da tecnologia mais poderosa, Sílvio Meira (quem mais?) acerta na jugular num post do seu blog que compara internet com esgoto.

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