Pierre Lévy e seu momento leão da montanha
17 agosto 2007
No meio da palestra de Pierre Lévy em São Paulo, na noite desta quinta-feira (16/08), me lembrei do Spiral Frog. O serviço montado pela gravadora Universal propôs distribuir MP3s gratuitos com a inserção de propagandas sonoras.
(Me lembrei também que esqueci de blogar a saída do CEO do Spiral Frog, o que colocou o serviço em xeque, mas isto não é surpresa nenhuma pra leitores {?} deste blog).
Foi isto que a Telefônica fez – para ouvir o filósofo falar, era preciso enfrentar discursos longos e nada objetivos sobre projetos de inclusão digital promovidos pela operadora no Estado de São Paulo.
O desconforto de Lévy era evidente. Entre risinhos nervosos e um claro sadismo, o filósofo respondia às perguntas de engravatados ligados à Telefônica sem qualquer informação que qualquer iniciado à internet não soubesse.
Um minuto para contextualização. A PitchFork Media foi celebrada na Wired por não mostrar respeito a figurões da música e estampar zeros na testa de caras como Kiss ou Sonic Youth. (Aliás, a gente ainda continua a se ajoelhar pra uma revista impressa. Estranho).
Este é meu momento PitchFork. Lévy está lá citado no meu projeto de pesquisa, alguns dos seus livros estão sendo enfrentados para o mestrado e seu nome é constante em certas aulas. Mas a palestra foi de uma decepção ferrenha com a figura do cara que adiantou (segundo ele mesmo) o conceito de construção coletiva de conhecimento há décadas.
Havia um evidente desconforto também pela elevação de Lévy ao pedestal dos gênios, mesmo com respostas básicas, evasivas e repetitivas, por um público claramente a quilômetros de distância da molecada que não apenas vive na internet, mas é a própria internet.
O Leão da Montanha dava suas respostas curtas, genéricas e que não explicavam quase nada e a multidão delirava de uma maneira polidamente acadêmica.
Pensei num laboratório – enquanto a molecada está construindo uma comunidade digital que envolve redes, comunidades, games e o cacete lá dentro, há um grupo da velha guarda que, de fora, segura o queixo com a mão e analisa um grupo que não entende.
E dá-lhe perguntas sobre como montar uma rede pedagógica que atraia tanta atenção como Orkut e MSN ou receios sobre o papel do professor num ambiente onde não é necessária a presença física.
Tal qual a viagem lisérgica de Douglas Adams e sua “resposta à vida, ao universo e tudo mais“, Lévy era uma espécie de Oráculo que se teletransportou à rechonchuda cadeira de couro preto para dar respostas mágicas sobre as dúvidas de professores.
O problema talvez não fossem as respostas, mas as perguntas, superficiais, genéricas e proferidas por gente que parecia mais preocupada em se fazer notar e questionar o tal filósofo.
Resolvi ir embora quando perguntaram se a internet mataria a universidade. Ainda na porta, ouvi Lévy rir de novo com escárnio e falar, numa espécie de “como assim?”, que a rede tinha nascido NA universidade. Nada novo, de novo.
17 agosto 2007 at 80807 pm
Que pena. Mas às vezes gênios têm problemas com públicos.
17 agosto 2007 at 90927 pm
Perguntas inúteis são realmente improdutivas.
Legal o texto.
17 agosto 2007 at 90955 pm
show o texto! Só vi os últimos 30 minutos via stremaing… na rede 🙂
[]’s
21 agosto 2007 at 20219 am
Olá, Gostei do seu post… descobri ontem que perdi esta palestra… ou fiquei muito aérea ou não foi muito divulgado – mesmo no meio acadêmico.Tb sou aluna do TIDD e o Pierre Lévy é fonte inspiradora. E pela sua descrição, houve pouco proveito – mas isso ocorre mesmo. ..Há mais pessoas interessadas em expôr o seu ego, que elaborar perguntas inteligentes e proveitosas. Abraços!
22 agosto 2007 at 101021 pm
Cara,
então quer dizer que eu não preciso me arrepender por não ter ido?
Perguntas longas, quando não estão contextualizando, são sempre uma exposição do ego. Provavelmente o arguidor nem ouve a resposta…
abraços
13 setembro 2007 at 101026 am
Pierre quem?
19 setembro 2007 at 40440 am
Olá, gostaria de saber se você tem links com palestras do Levy.
Estou trabalhando uma disciplina sobre educação, comunicação e mídia e queria encontrar algo assim.
Caso tenha outras sugestões…Interesso me por questões relacionadas a blog e educação.
Abraço e parabéns pelo texto